O termo da língua inglesa “commodity” tem o significado de mercadoria que tenha utilidade e sirva como base de transações comerciais de produtos considerados primários nas bolsas de mercadorias.
O tempo é usado como referência aos produtos em estado bruto, ou com pequeno grau de industrialização, que não tenham muita diferença entre si quanto a qualidade quando ofertados por diferentes fornecedores e produzidos em grandes quantidades.
Tem sido freqüente no mercado a afirmação de que a atividade de construção “é commodity”, referindo-se a idéia de que muitas empresas podem realizar este serviço sem que o contratante tenha grandes diferenças de qualidade global ao escolher qualquer uma dessas empresas para o seu empreendimento.
Também por conta desta visão, tem havido manifestações de empresários que precisam construir álbum empreendimento para o seu negócio e dizem preferir contratar os serviços diretamente de fornecedores de serviços, sem o envolvimento de uma construtora, porque assim “economiza-se” x% ou Y%.
Tais posturas representam um grande equívoco que é extremamente prejudicial ao setor de engenharia e construção.
Ao contrário, a atividade de engenharia e construção envolve alta responsabilidade civil, técnica e conhecimento.
Também é preciso analisar ser elevada a probabilidade de que obras contratadas com esta visão, sem engenharia e gestão adequadas, gerem problemas para o uso e a ocupação, comprometendo a durabilidade e vida útil do edifício, quando não a segurança de usuários.
Infelizmente a idéia de que “qualquer um pode construir” faz proprietários de empreendimentos acreditarem que , não contratando uma empresa de engenharia e construção capacitada, possam ter algum ganho real ou que não seja relevante buscar empresas que reúnam certa estrutura empresarial para ter efetivamente capacitação.
Ter capacitação significa estar apto a exercer uma verdadeira engenharia incluindo equipe de profissionais devidamente habilitados com capacitação por formação e por experiência, com ferramentas e conhecimento para:
- Planejar uma obra em toda a abrangência do planejamento;
- Selecionar bons fornecedores e materiais e componentes conforme às normas técnicas;
- Contratar e coordenar bons projetos;
- Atender normas técnicas vigentes no projeto e execução;
- Gerenciar (e não “tocar” a obra) com conhecimento técnico;
- Assegurar a qualidade;
- Respeitar toda a legislação de segurança e meio ambiente e investir para tanto;
- Entregar de fato a obra, vistoriando-a e entregando com tudo efetivamente funcionando;
- Dar assistência técnica com conhecimento e bom atendimento;
- Fazer tudo isso gerindo prazos e custos.
Esta capacitação independente de tamanho, mas não se faz isso tudo com recursos insuficientes tanto do ponto de vista de sistemas, tecnologia, quanto de pessoas capacitadas. Este não é um negócio em que, sem qualquer investimento, alguém possa atuar adequadamente.
Não é viável uma estrutura de competição saudável no setor se existir a visão de que a atividade de engenharia e construção é “commodity”.
Este é um ramo empresarial de elevada capacidade requerida, pois sem essa capacitação os riscos para contratantes, usuários e proprietários são muito maiores que aqueles inerentes à própria atividade.
Maria Angelica Covelo Silva –
Engenharia Civil, Mestre e doutora em Engenharia Diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento
Fonte: Revista Notícias da Construção – nº88 – 04/2010